Passei diante daquele que há muito e por muito tempo, foi o
senhor de mim, e vi que ele nada mais é que apenas mais um plebeu no meio da
multidão.
Como pude tratá-lo
como um soberano, se ele daria diamantes aos porcos?
Como pude dar a ele um tesouro que ninguém mais teria, e não
perceber que ele nunca entenderia o valor daquilo que lhe era ofertado?
Fui mesmo uma tola em
pensar que seria capaz de ensinar um qualquer a ser um Lorde digno de ocupar o
trono, de governar um reino rico, lindo e cheio de magia. Mas não poderia saber
que por trás daqueles lindos olhos que tanto me encantavam com toda aquela
doçura e calor, se escondia um pobre diabo que nada sabia sobre o que é ter
tanto nas mãos, mas não ouso dizer que fui enganada, nem que sabia o que estava
fazendo. Posso apenas dizer que julguei mal aquilo que escolhi como senhor de
mim, e que agora vivo tempos de anarquia no coração, pois nem mesmo eu, consigo
segurar a rebelião que a queda deste rei criou aqui. Apenas espero que ele encontre
seu lugar no mundo, mas que certamente não é no meu, mas foi, por um longo
tempo, mesmo quando ele já havia abandonado o trono, pois eu ainda era a sua
rainha, e aguardava, em vão por seu retorno. Mas agora percebo que ele nunca
reinou de fato, eu o nomeei rei, mas um rei é feito mais do que de roupas
belas, uma coroa e um trono.
Vejo agora, ao vê-lo como o plebeu que é compreendendo
finalmente que não se pode apenas dar a alguém o poder, se este não souber
usar, pois de nada vale dar o trono a um fraco, que diante da primeira decisão
que tiver de tomar, irá se curvar de joelhos e entregar a coroa ao primeiro que
tentar tomá-la. Poder não se ganha, se conquista. E nem que ninguém governará
sozinho um reino que é meu por direito, e mérito.
Agora sei que um dia alguém lutará contra os anarquistas,
para restabelecer o reino, um guerreiro que não precisará de armadura reluzente
e um cavalo branco, apenas vontade, força, e coragem para governar e restaurar
o reino e desfrutar de sua rainha. Alguem que saberá partilhar a dor dará valor
ao mais ínfimo detalhe de sua coroa e adorará a simplicidade do castelo que ele
por mérito conquistará.
Mas enquanto o tempo de paz não chega, eu aqui, tento
pacificar a rebelião a espera daquele que será o verdadeiro nobre, de coração e
atos, que terá a honra de governar ao meu lado, e não mais acima de mim.